domingo, 13 de julho de 2014
segunda-feira, 30 de junho de 2014
CADERNO NOVO
Uma vez eu estava
conversando com amigos e a conversa chegou naquele estágio em que só há duas
opções: ou ir para casa dormir ou cair na bobagem. Caímos na bobagem. Afinal é
para isso que servem os amigos. Depois de nos propormos vários desafios do tipo
“quem era que melhor gritava de pavor no cinema”, chegamos a uma daquelas
questões definitivas e definidoras. Qual é a melhor sensação do mundo? As
respostas variaram, desde “banho quente” até “acordar cedo, começar a sair da
cama e então lembrar que é feriado”, passando, claro, por outras menos publicáveis.
Mas aí um amigo disse duas palavras que liquidaram a questão:
- Caderno novo.
Todos concordaram. Não foi
preciso nem entrar em detalhe, dizer “a sensação de abrir um caderno novo, no
primeiro dia da escola, e alisar com a ponta dos dedos a página vazia, sentindo
o volume de todas as páginas vazias por trás dela, aquele mundo de coisas ainda
não escritas... E o cheiro do caderno!” Não houve um que não concordasse que
nenhuma sensação do mundo se igualava àquela.
O
caderno novo também nos provocava uma certa solenidade, lembra? Diante de sua
limpeza, fazíamos um juramento silencioso que aquele ano seríamos alunos
perfeitos. E realmente caprichávamos ao preencher o caderno novo com cuidado
respeitoso. Pelo menos até a quarta ou quinta página, quando então voltávamos a
ser os mesmos relaxados do ano anterior. Mesmo porque aí o caderno não
era mais novo.
(Luís Fernando Veríssimo)
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